12 de mai. de 2008

em tempo de ano eleitoral

...Das amargas recordações desses tempos, dona Neusa tem uma, comovente. De onde estava na prisão, ela via, na cela em frente, um jovem com a barriga aberta por um ferimento a bala, que mesmo assim era torturado.
"Ele tava cortado por causa do tiro, todo machucado. Sofria, coitado! Mas a preocupação dele era com as minhas filhas crianças. Eu estava penalizada com o estado dele e ele desesperado pela situação delas. Ele queria fazer alguma coisa."
Dona Neusa gostaria muito de rever esse jovem, que, em meio a seus próprios tormentos, era capaz de superá-los para tentar diminuir o sofrimento alheio. Ela se alegra quando descobre que o seu entrevistador conhece o jovem e pode registrar a sua gratidão tantos anos depois. O nome do jovem: Fernando Gabeira

Texto extraido do livro 1968: O ano que não terminou. Zuenir Ventura. 1988
Relato sobre a prisão em massa que aconteceu no congresso da UNE, em Ibiúna. Além dos diversos estudantes presos, a família que cedeu o sítio para o congresso foi também presa e torturada. Pai, mãe e filhas.

Fernando Gabeira é escritor, jornalista e atualmente político filiado ao PV

No ano em que completamos 40 anos do decreto do AI-5, lembranças de quem sofreu a tortura dos militares nos servem de desolação em comparação aos ideais que vivemos. Infelizmente, nem a política, nem a cumplicidade social, seguem exemplos como de Gabeira em meio aos mais violentos atos da irracionalidade humana.

Se a maioria não se importa, a minoria que se faça presente. A formação da História começa por ela.

Um comentário:

Jefferson Barbosa disse...

As vezes penso que quero me entregar ao mundo, desistir. Olho pra trás, olho pra isso e vejo que nada mudou. Hoje as coisas apenas acontecem de outro jeito. Digressão minha eu sei; viagem minha, eu sei. Mas é apenas uma forma de através de enigmas, demonstrar minha indignação e agredecimento a quem os merecem.