7 de mar. de 2010

a cerveja esquentava e a gente pedia uma gelada pra misturar

saudosos os tempos em que ficávamos no bar discutindo o novo projeto de revista que levariamos, quem sabe, até amanhecer. Dos tempos em que com sete reais ficavamos bêbados de cerveja e saiamos por ai chutando pedrinhas e cantando um cazuza, um lobão ou qualquer esboço de uma canção que acabávamos de fazer. De quando a gente achava que tinha que arrumar um desses trampos de escritórios só pra juntar uns setecentos reais e cair fora daqui. Aquela velha ideia de entrar no ônibus mais barato para o lugar mais longe possível. De quando a gente não dava tanta bola pra noite, de quando a gente ainda não entendia bem o que era a noite. E a nossa preocupação era ficar amigo do garçom pra ele nos dar os poucos saches de maionese que existiam no bar. Porque a gente não se contentava apenas com mostarda e ketchup, por mais que isso nos bastasse.

3 de mar. de 2010

quando a rua grita na nossa cara

uma batida de carro lá fora. Estico a cabeça pela janela do quarto, mas só enxergo a janela do prédio ao lado e um reflexo da luz do poste na rua. o portão do vizinho abre e o zelador sai correndo pra ver o que aconteceu, provavelmente a velha do 43 deve ter levantado e ido pra sacada ver o que se passa. Ela sempre ta na sacada quando chego ja de manhã ou ainda de madrugada cantando um blues ou simplesmente chutando garrafas. E ela fica resmungando e no outro dia coloca na minha porta um bilhete que nunca li, ou reclama pra síndica que eu nao presto.

foda-se ela!

algumas pessoas falam alto na rua. Outras continuam rindo e bebendo cervejas aqui no bar do lado. Uma sirene começa a soar lá do fundo e vem aumenTANDO, é da ambulância. Existe uma diferença entre a sirene da ambulância e a dos tiras: a da ambulância soa mais escandalosa, pedindo passagem, gritando que tem alguém morrendo na tuas costas; a do tiras já chega de mansinho, quase como um zunido que não te deixa dormir, mas mesmo assim tu esquece e só se da conta quando ela ja chutou as tuas bolas. Alguns carros buzinam lá no outro lado da avenida. Só querem chegar em casa o quanto antes e cairem no sofá pra ver mais um paredão do big brother brasil. Nem sabem do acidente que aconteceu aqui na porta do prédio. Nem sabem que a velha do 43 tá blasfemando algo como "eles mereciam isso, vivem correndo e bêbados e drogados por ai, não param nunca, querem tudo agora, esses marginais que so causam baderna". Mas é bem provável que ela fique resmungando sem a dentadura e babando em cima do parapeito que, por sinal, ja deve ter a marca dos peitos de tanto que a filha da mãe fica futricando os outros nessa sacada.

...

a ambulância acabou de sair daqui, em alta velocidade pelo que gritaram os pneus. Talvez ninguém tenha morrido. É o que a gente espera, mas nem sempre é possivel.