24 de ago. de 2008

tua hiperatividade é uma merda, mas eu preciso dela

Peguei o casaco estendido na sacada e sai. Na verdade ele ainda estava úmido nas mangas, não tinha problema.
Queria dar uma volta, fazia dois dias que estava em casa, caminhando do quarto para a sala, da sala para a cozinha, da cozinha para a sala, para o quarto e depois vomitava tudo no banheiro.

Na verdade esperava que tu estivesses andando pelas ruas do bairro. Em outros momentos, quando não queria, sempre te encontrava saindo de um bar ou entrando na casa de alguém.

Antes de sair desliguei o Ian Curtis das caixas de som do meu quarto. Um sábado pré-domingo de chuva há dois dias trancado num apartamento de 30 metros quadrados, Joy Division era a trilha perfeita.

Enrolei um baseado. Caso te encontrasse, certamente fumaríamos. Se não te encontrasse viajaria sozinho, como de costume nesses últimos dias.

Fazia frio e a cidade estava calma. Já anoitecia e as pessoas, com medo das ruas, trocavam os parques pelas suas casas. Eu saia, com medo de ficar em casa por mais 1 minuto.

Quadras passaram e nada de ti, de ninguém. Encontrei um mendigo que conversara bêbado uma noite qualquer no meio da semana. Lembro que dividimos um cigarro, dele. Não fumava, me fazia muito mal à nicotina e as outras substâncias. Minha asma já tinha suportado três anos de maços, e não resistia mais.

Entrei num bar, desses que surgem encravados num prédio antigo. Uma mesa no fundo e uma cerveja. Muito barulho e as paredes me apertavam. Sai de casa porque não agüentava mais ficar entre aquelas quatro sustentáveis e claustrofóbicas paredes - e nem outra qualquer.

Caminhei pelo parque que tinha ali perto, já anoitecera e entre as árvores poucos se arriscavam a passar. Tinha medo, mas a necessidade de adrenalina, ou qualquer experiência que me agitasse, superava qualquer trauma que, por ventura, poderia ter.

Encontrei outros conhecidos, mas não parei para conversar. Apertei o passo fingindo um compromisso inadiável ali na outra esquina. Nunca nos falamos muito mesmo. O que conversaríamos a essa hora nesse lugar?

Do outro lado, olhando a outra rua, sentei num banco e parei.
Enquanto olhava ônibus passarem, minha cabeça girava num fluxo de pensamento incrível. Quando me dava conta do que estava pensando, outra coisa surgia e mudava meu raciocínio. Talvez a incrível quantidade de remédios consumidos na noite anterior ainda fizesse algum efeito. Ou não.

Acendi o baseado, sozinho. Os ônibus diminuíram o fluxo. Os carros passavam com calma. Os postes de iluminação acenderam. As poucas pessoas que caminhavam com passos apertados, diminuíram o ritmo e contemplavam a noite fria e calma.

Minha cabeça já não pensava mais como antes. Leves divagações se misturavam ao olhar fixo num ponto perdido no final da quadra.

Já quase no fim da droga tu aparece fumando um cigarro. Te chamei e me arrependi quando falei a última vogal do teu nome.

Já chegou contando história, me abraçando, beijando no rosto. Nem sentou no banco. Ficou ali pulando e as cinzas do teu cigarro caiam sobre o meu colo.

Te ofereci um pega. Aceitou e fumou todo o resto que tinha, ainda de pé e contando outra história. E eu tentava entender a anterior.

Deve ter passado uma hora. Tu falavas e eu ria. No sétimo cigarro que acendeu, roubei ele da tua boca e tu reagiu com um beijo.

Já estava completamente escuro naquele parque e ninguém mais passava por ali.
Outros trinta minutos perdemos nesses beijos e abraços que aconteciam naquele banco. Tu continuavas agitada.

Pegamos um ônibus e fomos para a tua casa. Na chegada umas cervejas que gelavam na geladeira.

No teu quarto transamos a noite inteira. Entre conversas, copos e sedas, fazíamos o que melhor sabíamos juntos. Quando amanheceu tu parou e dormiu. Pela primeira vez escutei o silêncio naquela noite/dia. Uma calmaria invadiu meu corpo nu e deslizei para dentro do colchão, contigo virada para o outro lado da cama

Quando abri os olhos do pequeno transe tu dormias como um bebe ai do lado. Tudo estava calmo. Parei de admirar teu corpo e girei meus olhos pelo quarto. E ai me dei conta de que estava entre as tuas quatro paredes.

Acendi um cigarro.

4 comentários:

Alice C. disse...

bah! Tu me emociona!




Pq que tu nunca liga, ou manda uma msg?

Carol. SM. disse...

muito bom!
clap clap clap!!!

Anônimo disse...

Diria que seus textos tem sido uma das melhores merdas que ja li em toda minha vida! A paixão do meu momento... obrigada

Monica :) disse...
Este comentário foi removido pelo autor.